O objetivo do avaliação em evidência é compreender a avaliação de aprendizagem como componente pedagógico que possibilita a reflexão sobre os princípios, características e modalidades da avaliação, a prática da avaliação no trabalho pedagógico levando em consideração as várias referências e complexidade do ato educativo no espaço escolar.
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
Avaliação da aprendizagem escolar: um ato amoroso
Síntese: Avaliação da aprendizagem escolar: um ato amoroso
Amoroso
aqui, é entendido como o cuidado do educador para com o seu educando até que
ele aprenda o que é necessário. Todo educando aprende, se efetiva e
afetivamente ensinado. Atuar dessa maneira significa amorosidade, e pois,
inclusão. A partir daí ele cumpre o papel de sinalizar para o professor de que
o sucesso positivo do ensino-aprendizagem depende também de cuidado permanente,
incansável e amoroso. Quero sintetizar que o ato de avaliar a aprendizagem, por
si, é um ato amoroso.
Provas/Exames
tem por finalidade, com relação a aprendizagem escolar, verificar o nível de
desempenho do educando em determinado conteúdo e classifica-lo em termos de
aprovação/reprovação, separando assim, os “eleitos” dos “não eleitos”.
Essa
característica das provas/exames, porém, não é graciosa. Ela está comprometida,
como os enunciados dos textos e falas, com o modelo de prática educativa e de
sociedade a que serve. No caso das Provas/Exames, temos o seu conhecimento na
origem moderna que se sistematizou a partir do século XVI e XVII, com a
aparição da sociedade burguesa. A prática que conhecemos é herdeira dessa
época, pois a sociedade burguesa é marcada pela exclusão e marginalização de
grande parte dos seus membros. Basta
notar que os slogans da Revolução Francesa, por si, eram amorosos, mas nenhum
deles é traduzido como prática histórica e concreta da sociedade. Essa
liberdade foi definida no limite da lei; evidentemente, da lei burguesa. E a
fraternidade permaneceu como palavra que o vento levou (Praticar a fraternidade
seria negar a possibilidades da sociedade burguesa, que tem por base a
exploração do outro pela apropriação do excedente do seu trabalho, ou seja,
pela apropriação da patê não paga pelo trabalho alheio e nesse contexto, o ato
pedagógico, e ainda menos, o ato das provas/exames poderiam ser um ato amoroso).
A
denominação avaliação da aprendizagem é nova e foi atribuída a Ralph Tyler, que
a cunhou em 1930. Ele é educador norte-americano à questão de um ensino que
fosse eficiente e aqui no Brasil ele é conhecido pelo seu livro Princípios
Básicos de currículo e ensino, publicado e traduzido pela editora Globo.
Essa
denominação mudou, porém a prática continuou a mesma, as de provas e exames.
Ela é muito difícil de ser mudada por que a avaliação, por si, é um ato amoroso,
mas a sociedade em que está sendo praticada não o é, daí vence a sociedade e
não a avaliação. Enquanto as finalidades e funções das provas e exames são as
mesmas que as da sociedade burguesa, as da avaliação a questionam, por isso é
tão difícil realizar a avaliação na integralidade do seu conceito.
O
ato amoroso é o ato que acolhe ações, alegrias e dores como eles são; acolhe
para permitir que cada coisa seja o que é, neste momento. Para tanto, o ato
amoroso tem como característica não julgar. Os julgamentos até aparecerão, mas
com o objetivo de dar curso à vida e não de excluí-la. É como na passagem de
Maria Madalena, onde Cristo inclinou-se aos seios dos seres humanos,
enfrentando os fariseus com a seguinte frase: “Atire a primeira pedra quem não
tiver pecado algum”. E com essa expressão ele a acolheu, por isso ela foi
curada no corpo e na alma, pois o acolhimento integra e o julgamento afasta. Esse ato de Cristo foi um ato
amoroso, que por si só se tornou acolhedor, integrativo e inclusivo.
A
avaliação tem por base acolher uma situação, para então (e só então), ajuizar a
sua qualidade, tendo em vista estender-lhe a mão se necessário for ela tem como
base a inclusão e não a exclusão; a inclusão e não a seleção. A prática de
provas e exames exclui parte dos educandos, por basear-se no julgamento, já a
avaliação os inclui por devido ao fato de diagnosticá-los e, por isso,
oferecer-lhes condições para encontrar o caminho a seguir.
De
um lado, a avaliação da aprendizagem tem por meta ajudar o aluno em seu crescimento,
e por isso, na sua integração, ajuda-o na apropriação dos conteúdos
significativos. Aqui, ela se apresenta como meio constante de fornecer suporte
ao aluno no seu processo de descoberta e de constituição de si mesmo.
Por
outro lado, a avaliação da aprendizagem responde a uma necessidade social, pois
a escola recebe o poder social de educar as novas gerações, e por esse motivo
deve responder a esse poder. Esses dois objetivos só fazem sentido e caminham
se estiverem juntos, porque se for dada a atenção apenas ao sujeito indivíduo,
iremos cair no espontaneísmo; e se centrarmos apenas o segundo, chegaremos ao
auge do autoritarismo.
O caminho é o meio, onde o
crescimento do educando articula-se com o coletivo, não no sentido de
atrelamento, mas no sentido da responsabilidade que a escola necessita ter com
cada indivíduo.
Assim
sendo, a avaliação da aprendizagem auxilia educando e educador em sua viagem
comum de crescimento, e juntos eles constroem a aprendizagem, testemunhando-a
tanto para a escola quanto para a sociedade. A construção, para ser construção,
deve incluir, seja do ponto de vista individual, seja do ponto de vista
coletivo, integrando e educando num grupo de iguais, do todo e da sociedade
geral.
É
importante estar atentos à função constitutiva de diagnóstico para uma
avaliação que crie bases para a tomada de decisões, por meio de encaminhar os
atos subsequentes, na perspectiva da busca de maior desempenho nos resultados.
São elas:
Propiciar
a auto compreensão, tanto do aluno quanto do professor, por meio dos atos de
avaliação como aliados na construção dos resultados satisfatórios. É necessário
ter consciência de onde se está, para assim conseguir acolher aonde quer que
for. Como aliados, aluno e professor podem se auto compreender a partir da
avaliação da aprendizagem.
Motivar
o crescimento. A avaliação motiva na medida que diagnostica e cria assim,
desejos para obter resultados satisfatórios. Os alunos sentem-se mal com
comentários desabonadores feitos pelos professores no momento da devolução de
trabalhos e dos seus resultados, sentindo-se desmotivados pelas palavras. A
avaliação pode e deve ser motivadora para o aluno e para o seu crescimento e
busca pelas possiblidades.
Aprofundar
a aprendizagem, dando ao educando a oportunidade de aprender o conteúdo obtido
nos exercícios e de forma apropriada, pois aqui o exercício é tido como para o
aluno como fonte de possibilidades e de múltiplas oportunidades de aprender. Os
exercícios podem e devem ser tomados como exercícios de aprendizagem.
Auxiliar
a aprendizagem. Se tivermos a compreensão de que a avaliação auxilia na
aprendizagem, certamente estaremos fazendo o melhor para que os nossos alunos
aprendam e se desenvolvam.
Por
fim, para cumprir essas funções, é importante que estejamos atentos a alguns
cuidados que serão usados como instrumento de operacionalização:
Ter ciência de que, por meio desses
instrumentos de avaliação estamos solicitando ao aluno que manifeste sua
intimidade. Não podemos, então, aproveitar essa manifestação para “tomar posse”
desses alunos, respeitando sua intimidade e a cuidando com carinho.
Construir
instrumentos para coletas de dados e avaliação, com atenção aos pontos: Cobrir
uma amostra significativa de todos os conteúdos ensinados e aprendidos de fato,
para os planejamentos de ensino para a avaliação; Compatibilizar as atividades
motoras, trabalhadas e desenvolvidas na prática do ensino aprendizagem;
Compatibilizar os níveis de dificuldade, pois um instrumento de avaliação não
pode ser fácil ou difícil demais. Ele deve ser compatível, em termos de
aprendizagem; Usar uma língua clara e compreensível, para salientar o que se
deseja pedir, porque ninguém pode responder uma pergunta sem compreendê-la;
Construir instrumentos que auxiliem a aprendizagem dos alunos, seja por métodos
de demonstração, seja por essencialidade ou pelos exercícios inteligentes
cognitivos propostos.
Por
último, é preciso estarmos atentos também ao processo de correção e devolução
dos instrumentos de avaliação escolar dos estudantes:
Quanto
a correção, é importante não usar somente o vermelho como cor predominante dos
exercícios mal sucedidos. Pode-se usar outra cor, e não é necessário borrar os
trabalhos, tendo um afeto positivo na hora da correção.
Quanto
a devolução, é importante que o professor, pessoalmente entregue a avaliação ao
educando, pois foi dele que o professor a recebeu. Isso implica respeita pelo
aluno e a oportunidade de um processo de diálogo construtivo entre educador e
aluno.
Assim a avaliação se destina ao diagnóstico, por isso ela é
inclusão, por que destina-se a melhoria no ciclo de vida. É visível a nossa
dificuldade em compreendê-la e praticá-la... Mas, o convite deve ser feito. É
uma meta a ser traçada e trabalhada, para que com o tempo, se transforme em
realidade, por meio de nossas atitudes e ações, pois somos nós os responsáveis
diretos por esse processo.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: um ato amoroso. In:
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. Ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 201-213.
Prática escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude
Síntese: Prática escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude
Com o avanço do
tempo, os castigos educacionais nas escolas foram perdendo o seu caráter no
aspecto físico e se transformando em agressões mais tênues, mas nem por isso
desprovidos de violência.
Nas práticas
escolares do passado, os castigos eram na sua maioria, físicos. No Sul, os
professores usavam réguas escolares para bater em seus alunos. Já no Nordeste
brasileiro a Palmatória era instrumento de castigo com o qual os educadores
disciplinavam os seus educandos. Existia também o castigo “moral”, onde o professor
deixava o aluno de “pé” durante a aula toda ou de joelhos em milhos ou feijões
como forma de punição por respostas “incorretas”.
Raramente hoje em
dia usa-se essa forma de disciplina, porém, os castigos escolares ainda fazem
parte do meio pedagógico, só que de maneiras diferentes, mas sutis. O castigo
não atinge tanto o físico do aluno, mas sim a sua personalidade.
Um exemplo de
agressão sutil: “Uma pergunta autoritária que transmite medo e ansiedade é
passada de aluno para aluno, provocando um clima de tensão e de culpa, pois
muitas vezes não se obtêm a resposta necessária”. Essa maneira de conduzir a
aprendizagem implica na fragilidade do aluno e na gravidade da “agressão
emocional” provocada pelo educador, que intitula como “fraco” o aluno que não
consegue se sobressair e de “forte” o aluno que corresponde as suas
expectativas, ridicularizando, assim, os “fracos” perante a turma. O discurso
ou ação imposta pelo professor e pelos colegas caracteriza-se então como forma
de castigar e amedrontar o aluno tenso. Ainda existem outros castigos
como: Ficar retido na sala de aula; Ficar sem lanche; Fazer tarefas “extras”.
Entre outras inúmeras modalidades de castigos e ameaças que são emergidos como
erro – verdadeiro ou suposto – ou seja, marca o aluno tanto pelo seu conteúdo
funciona como quanto pela sua forma. Tais atitudes empregadas repetidas vezes
provocam ansiedade, medo e vergonha, a postura corporal que o aluno manifesta,
como a sua maneira de respirar com intensa dificuldade é uma representação clara
de sua tensão diante da situação. Essa ação de medo funciona como um antídoto
possível contra as catástrofes que estão para desabar. O educador adquire uma
atenção (limitada) e com preços altos a se pagar.
Esse erro na
prática escolar se desenvolve como uma compreensão culposa na vida do aluno,
pois além de ele ser castigado por outros, muitas vezes sofre pela autopunição,
exemplo, Quando um jovem não vai bem numa aprendizagem, ele diz: “Poxa, isso só
acontece comigo!”.
O trabalho
psicológico futuro para que essas crianças e jovens de hoje se libertem de suas
fobias e ansiedades será gigantesco, pois eles adquiriram hábitos
biopsicológicos inconscientes criados pelo medo, que com certeza não serve para
nada mais além do que garantir uma submissão internalizada que tolhe a vida e a
liberdade criando a dependência desses seres humanos para seguir em frente.
A ideia central e
a prática do castigo discorrem das concepções de que as condutas de um sujeito
– aqui, no caso, do educando – que não satisfaz as expectativas de um
determinado padrão e merecem ser castigadas, a fim de que ele “pague” por um
erro e que “aprenda” a assumir condutas que seriam corretas para o educador.
Por essa razão se conduz a concepção de que o entendimento e a prática do
castigo decorrem de uma visão culposa dos atos. Em outras palavras, a culpa
está na raiz do castigo.
Nessa
perspectiva, o erro está sempre relacionado a condenação e castigo porque
decorre de uma culpa. A ideia da culpa está relacionada, entre outras coisas,
com a concepção filosófica-religiosa de que somos frutos do pecado que nos
acompanha desde o nosso nascimento até a nossa função cultural -
“ocidental-cristã” – que foi marcada pela perspectiva da queda, contida no
livro da Bíblia no texto de Gênesis. Daí então, todos os seres viventes –
homens e mulheres – que viessem a nascer teriam essa marca.
Entretanto... o
viés da culpa não é gratuito, pois a própria culpa causa uma limitação de vida
e produz uma rigidez na conduta, emergindo dessa forma um controle social
internalizado e fazendo com que cada um se torne “engessado”, impossibilitado
de expandir seus sentimentos. A sociedade conservadora não suporta existir sem
suas formas de mecanismos de controle, tornando assim a culpa muito útil. Essa
trama nas relações sociais e que constitui o tecido da sociedade m si tem uma
forma determinante sobre as nossas condutas individuais, contudo, o erro
poderia ser visto também como fonte de virtude, ou seja, de crescimento pessoal.
Isso implica
estar sempre aberto e observando o acontecimento como um acontecimento e não
como um erro; observar sem preconceito para dele retirar os benefícios.
Uma conduta é
somente uma conduta, um fato. Ela só pode ser determinada como erro a partir de
determinados padrões de julgamento, ou seja, é preciso antes de mais nada
observar para depois julgar, mas a nossa prática tem sido inversa: primeiro
colocamos a barreira do julgamento e só depois tentamos observar os fatos que
ocorreram.
Obviamente não é nada fácil observar
antes de julgar, mas precisamos adquirir e aprender essa conduta se quisermos
realmente usar o erro como fonte de virtude, pois o erro só emerge da
existência de um padrão considerado correto, ou seja, sem padrão não há como
haver erro. O que existe é uma ação insatisfatória, no sentido de que ela não
atingiu objetivo buscado.
Essa
característica de “acerto\erro” é grande e pode ser muito útil para expressar o
esforço de alguém que busca “na escuridão do conhecimento” um caminho para
compreender e para agir sobre o universo. Entretanto, se atentamos bem para o
que acontece, iremos perceber que não há nem acertos e nem erros, apenas um
processo de sucesso ou insucesso como resultado da atividade. Nesse caso não
temos nem acerto nem erro já que não existe um padrão que possa julgar tal
atitude, em suma, na aprendizagem escolar pode ocorrer manifestação da conduta
no aprendizado, uma vez que já existe o padrão do conhecimento da habilidades
ou soluções que devem ser aprendidas.
Não há porque ser
castigado pelos outros ou por si mesmo só porque uma solução se deu de forma
“mal sucedida”. O que verdadeiramente há é a possibilidade de utilizar de
maneira positiva a situação para a abordagem de certos pretendida. “Thomas
Edson fez mais de mil experiências para chegar a lâmpada e obteve muitos
experimentos mal sucedidos antes de sua descoberta. Quando questionado pelo seu
colaborador de porque não desistir, Thomas simplesmente respondeu:
Porque desistir
agora se estamos cada vez mais próximos de descobrir como fazer uma lâmpada?”
Os insucessos
foram servindo, dessa maneira de trampolim para o sucesso de sua busca, ou
seja, neste contexto, ele não significou erro ao contrário disso, serviu como
ponto de partida para os avanços nas investigações por uma busca satisfatória.
O erro,
especialmente no caso da aprendizagem não deve ser fonte de castigo, pois é um
suporte para a auto compreensão, seja ela pela busca individual, seja pela
busca coletiva, formando assim, um suporte para o conhecimento.
A avaliação da
aprendizagem deve servir de ajuda para a qualificação daquilo que acontece com
o aluno, diante dos objetivos alcançados, de tal modo que se possa averiguar
como agir para ajudá-lo a alcançar suas metas. A avaliação não deveria ser
fonte de decisão para o castigo, mas de decisão para os caminhos de um
crescimento sadio e feliz.
Reiteramos também
que o insucesso e o erro, em si, não são necessários para o desenvolvimento,
entretanto, uma vez que ocorram, não devemos fazer deles fontes de culpa e de
castigo, mas sim trampolins para saltos em direção a uma vida consciente e
satisfeita.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Prática escolar: do erro como fonte de castigo ao erro como fonte de virtude. In: LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 22. Ed. São Paulo: Cortez, 2011, p. 189-200.
História
de vida: “Um relato sobre avaliação”.
O modo de avaliação usados por meus
professores desde os primeiros anos iniciais na escola foram diversificadas.
Alguns realmente estavam preocupados com o que eu e meus colegas aprendíamos,
ajudavam onde achavam que havia dificuldade, dialogavam e comemoravam nossa
aprovação. Outros preferiam manter distância seguindo autoridade e
rigorosidade.
No primário tudo parecia tão divertido,
o ato de ir à escola, falar com os amigos e professora (tia) aprendíamos coisas
sem se preocupar com notas ou passar de ano. Os professores cobravam que nós
aprendêssemos e quando errávamos repetíamos até aprender, algo trabalhoso mas
que só avançaríamos se realmente aprendêssemos. Nesse tempo, algumas regras
eram cobradas diariamente, todo dia ao final da aula rezávamos todos em um só
ritmo o Pai nosso.
As professoras cobravam que nós respeitássemos
os colegas e os mais velhos, agradecêssemos o que recebemos, prezavam que
usássemos frequentemente as saudações, bom dia, boa tarde, com licença. Éramos
avaliados por aquilo que tínhamos aprendido bem como o que produzimos.
No fundamental muda totalmente o
paradigma de avaliação, toda responsabilidade de aprendizagem era jogada para
nós, onde tínhamos que aprender por que valeria nota. E com o avanço dos
conteúdos que cada vez se tornavam mais difíceis até por serem novidades para
nós, houve uma mudança na forma como éramos cobrados em relação a avaliação.
Geralmente eram feitas 3 provas a cada bimestre onde ao final tínhamos uma média
onde essa representava aquilo que aprendemos. As provas eram baseadas em
respostas dos exercícios, onde tínhamos que decorar (por meio de repetição) e
transpor exatamente igual na prova. Caso estivesse diferente ou escrito de
forma diferente era considerada errada.
Partindo para o ensino médio todas as
atenções eram voltadas para o vestibular, na época do PSS (processo seletivo
seriado) todo conteúdo estudado era referido como: “esse assunto pode cair na
prova do PSS”. As avaliações continuavam a ser cobradas por reprodução, exceto
casos raros onde alguns professores utilizavam de instrumentos de avaliação que
nós desconhecíamos, “seminário” por exemplo. Esse instrumento em particular
causava pânico entre todos. A preocupação com o medo de errar na frente de
todos, o nervosismo, a falta de domínio no conteúdo acarretava em uma má
assimilação do conteúdo, onde recorríamos para os famosos papeis de “anotações”,
que na verdade era o próprio conteúdo escrito exatamente como o professor
queria ver e ouvir.
Com o ingresso no ensino superior todos
os olhos são voltados ao famoso CRE (Coeficiente de rendimento escolar) a
necessidade de manter uma média alta é tratada com importância maior que a do
aprendizado. As avaliações, geralmente utilizando prova como ferramenta ainda
geram desconforto por exigir a reprodução exata do conteúdo apresentado pelo
professor. Alguns professores tentam mudar esse paradigma, mas por maioria esse
modo de avaliação permanece.
Assim,
se for observado grande parte de minhas experiências com avaliação foi
utilizado uma avaliação quantitativa, exceto nos anos iniciais onde era
possível notar uma preocupação maior com o que era aprendido. Hoje ainda é
possível notar que isso ainda se mantem, onde as mesmas práticas são passadas
de geração para geração.
As noções de erro e fracasso no contexto escolar
Síntese
do texto: “As noções de erro e fracasso no contexto escolar: algumas
considerações preliminares”.
José
Sérgio de Fonseca de Carvalho
- A associação entre o erro e o fracasso apresenta-se à nossa mente quase como um substantivo composto, que frequentemente culmina na reprovação do aluno.
- O erro seria um indício de fracasso no conhecimento e na aprendizagem como se houvesse uma ligação entre eles de causa e efeito?
- Poderíamos não apenas dissociá-los, mas, por exemplo, sugerir outros pares como erro e conhecimento, erro e efeito?
- Não são poucos os pensadores que analisam e tentam associar o erro a outras noções como esperança, conhecimento e aprendizagem.
- Esses pensadores não são necessariamente pedagogos modernos, professores permissivos nem reformadores educacionais. São filósofos, por vezes distanciados de nós no tempo, por vezes distanciado da preocupação pedagógica, mas que têm muito a nos dizer, já que frequentemente refletiram o papel do erro para o conhecimento, para aprendizagem ou para algum outro aspecto da conduta humana.
- Demóstenes, antigo filósofo grego, via no erro não um caminho para o fracasso ou para o desespero, mas antes uma razão para a esperança.
- O filósofo Bacon, que cita Demóstenes, nos diz que a verdade emerge mais facilmente do erro do que da confusão.
- Então, erro e esperança, erro e verdade ou erro e aprendizagem são apenas algumas possíveis associações que podem ser geradas. Eles foram citados simplesmente para mostrar que automatismo da ligação entre o erro e o fracasso pode ser mais proveniente de uma associação mecânica
- Quando associamos o erro e fracasso, como se fossem causa e consequência, nem se quer percebemos que, enquanto um termo—o erro—é um dado, algo detectável, o outro—o fracasso—é um fruto de uma interpretação desse dado e não a consequência necessária do erro.
- De maneira geral, um erro pode ser interpretado de diversas formas.
- A constatação do erro não nos indica, de imediato, que não houve aprendizagem tampouco nos sugere inequivocamente fracasso, seja da aprendizagem ou do ensino.
- Uma resposta errada a um problema ou questão pode explicitar dois fatos totalmente distintos: a ignorância, a confusão ou o esquecimento de um dado, uma informação, ou então a ignorância ou malogro de uma operação, por meio de uma tentativa frustrada de aplicação de uma regra ou de um princípio na resolução de um problema.
- O objetivo do ensino de qualquer disciplina sempre ultrapassa a mera memorização de informações e de casos exemplares dos quais o professor, inevitavelmente, se vale na busca da transmissão de um conteúdo qualquer.
- Avaliamos o êxito de qualquer ensino não pela capacidade de reprodução que o aluno tem do que foi apresentado como informação ou caso exemplar, mas pela sua capacidade de construir soluções próprias a novos problemas, ainda que para isso ele recorra àquilo que lhe foi colocado como caso exemplar, ou seja, que ele lance mão das “soluções canônicas” que lhe foram apresentadas em aula.
- Não somos simplesmente transmissores de informação, mas professores preocupados sobretudo em desenvolver capacidades, é preciso que tenhamos clareza na distinção entre meros erros de informação e problemas no desempenho de capacidades. E uma primeira distinção pode repousar justamente na diferença entre ignorar uma informação e desenvolver um raciocínio (ou uma operação) de forma parcial ou completamente equivocada.
- Avaliar o desenvolvimento de uma capacidade exige a determinação do grau de desempenho prévio do aluno, do nível de seu progresso, e, sobretudo, da pertinência de nossas exigências ante as possibilidades e necessidades reais desse aluno – o que é notadamente diferente de apontar um erro de informação.
- Um desempenho é classificado como satisfatório ou não dependendo das variáveis do contexto. É assim, por exemplo, que avaliamos o desempenho de um jogador de futebol no campo da esquina ou na copa do mundo. Nossos critérios para avaliar a gravidade do erro ou a excelência do desempenho em capacidades são variáveis, e é imprescindível que eles o sejam, tanto no futebol como na escola.
- Um erro de informação é corrigido dando-se a informação correta ou preenchendo a lacuna da ignorância com uma informação que não se tinha.
- O que é o discernimento? É definido por Oakeshott como o elemento implícito ou tácito do conhecimento, que não é passível de compartimentalização em informações ou itens isolados sob a forma de proposições, tal como as informações. Ao ser aprendido, ele não se torna passível de esquecimento.
- O discernimento é o “resíduo que permanece quando tudo mais se esquece, é a sombra do conhecimento perdido”
- Por exemplo no aprendizado de uma língua, a ampliação do vocabulário e a correção nas construções só são possíveis porque agimos por meio de tentativas, erros e avaliação crítica de novos usos, até o ponto em que aquilo que um dia nos foi impossível torna-se viável.
- O contexto escolar deveria ser o local por excelência das tentativas próprias de solução de problemas, seguidas de um exame crítico por parte do professor.
- Não existimos para decretar fracasso, mas para promover aprendizagens.
- Apontar um erro não significa “podar uma criatividade”, nem decretar o fracasso. Significa instrumentalizar os alunos para que adquiram uma capacidade que não podemos pressupor que tenham.
- Sempre que empregamos a noção de ensino temos em mente, implícita ou explicitamente, um ato com três elementos: alguém que ensina, no caso de instituições escolares, o professor; algo que é ensinado, uma disciplina ou habilidade constante do currículo escolar, e alguém a quem se ensina, os alunos.
- Se o ensino conta com esses três elementos, é no mínimo plausível imaginarmos qu quando não há aprendizagem, a causa pode igualmente encontrar-se em qualquer um dos três, ou mesmo na combinação entre esses fatores, e não apenas naquele a quem se ensina.
- Atribuímos o fracasso à sua preguiça, ao seu despreparo, as suas condições de vida e assim por diante.
- Então qual o significado de um índice de reprovação de 20%, 30%, 40% ou mais? A viabilidade da primeira hipótese, de que somente um pequeno percentual das crianças está preparada, é capaz ou merece continuar a escolaridade, é condicionada por outra premissa, não de natureza pedagógica, mas de política educacional: a de que a escola é para alguns.
- A forma pela qual um professor interpreta e trabalha o erro ou na inadequação de uma produção do aluno não pode ignorar o compromisso que anima o ideal de uma escolaridade fundamental para a população.
CARVALHO, José Sérgio de Fonseca de
Carvalho.As noções de erro e fracasso no contexto escolar: algumas
considerações preliminares. IN: AQUINO, Julio Groppa (Org). Erro e fracasso na
escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997, p.11-24.
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